terça-feira, 23 de outubro de 2012

Fotografia



Coloquei-a no mais nobre
lugar da estante da sala.
Entre os livros e os troféis.
Entre os gritos dos fiéis
busquei um silêncio
incrédulo, desacreditado.
Entre os gemidos do orgasmo
busquei a razão
tardia, vadia.
Sem vergonha de admitir
que ri, sofri
e ainda sofro ao vê-la ali,
na estante ou em qualquer lugar,
me olhando sem me julgar
Sem desculpas para me culpar,
sem motivos para chorar.
Aquele lugar talvez não seja tão nobre,
aqueles troféis talvez vieram por sorte,
e aqueles livros que eu ainda não li,
nem eles, nem ela deviam estar ali.
Contudo não há mais onde
e nem porque correr.
Não há mais como
e nem porque fugir.
Na sala espalho a prisão que construí.
De frente a estante da sala, pendurado na parede, foi onde morri.

Fernando Reis

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